Trecho do meu livro...
- Eliane Arthman
- 7 de fev. de 2021
- 13 min de leitura
...naquela manhã, depois de uma noite em claro, revendo seus aprendizados, Fenícia sentou-se confiantemente em sua mesa escolar. Mestre Ménon a olhou e sorriu. - Vejo que andou revendo seus velhos livros, Fenícia! Sem espantar-se com a vidência do Mestre, Fenícia concordou. - Sim, Mestre. Reli todos os meus livros e pratiquei muitos exercícios que já estavam apagados de minha mente! - Pois então venha aqui na frente mostrar o que andou treinando, minha cara! Ménon pensou um pouco, acariciando sua comprida barba branca e pediu: - Fenícia, quero que materialize uma nuvem de vapor com aroma de eucalipto. E que essa nuvem tome todo o chão da sala. Fenícia abriu os braços, uniu os dedos médio, polegar e indicador e fechou os olhos, sussurrando algumas palavras mágicas. Singelo vapor espalhou-se pelo chão da sala, suave e homogeneamente, com um refrescante aroma de eucalipto. Depois de alguns minutos deixando o fenômeno ocorrer, Fenícia sorriu feliz. - Muito bem, Fenícia! – parabenizou Ménon - Agora, faça as paredes e o teto desaparecerem! Novamente ela concentrou-se. Sua face ficou vermelha pelo esforço e sua respiração mais acelerada. Depois de alguns instantes, que lhe pareceram longos demais por sinal, as paredes foram apagadas por sua força mental, sendo substituídas por uma paisagem de pradaria iluminada pela luz do sol, com luxuriante vegetação rasteira ao redor. Parecia mesmo que todos estavam sentados em meio à relva! - Muito bem, muito bem! Obrigado Fenícia. Creia que valeu a pena ter se esforçado tanto! Os últimos a serem chamados foram: Galana, Theri, Thiussá, Adhan e Lemulia. Theri, que era a única ruiva da sala, estava apreensiva. Apesar de ser uma das alunas mais aplicadas, sua confiança era quase nula. Ménon sabia que Theri tinha “algumas” dificuldades ao utilizar sua “força Mental”. Mas ele sempre se preocupara em dizer que ela precisava se acostumar a ser testada, sem se importar com alguns possíveis erros. Ela sempre trocava a ordem das palavras mágica e isso se tornava um verdadeiro transtorno. As Forças Negativas se aproveitavam disso e a atacavam ferozmente todas as vezes em que ela se atrapalhava na pronúncia ou na ordem das palavras. Ela pensou, então, numa fogueira de Luz Violeta a envolvê-la e logo relaxou. Desse no que desse, ela resolveu se lançar nessa nova tentativa. Ménon caminhou várias vezes ao redor de Theri, como se estivesse a abençoá-la, até que pediu: - Theri, minha jovem e bela aluna, coloque-nos, todos nós, dentro de uma lagoa formada por uma cachoeira. E faça surgir um singelo arco-íris. De olhos fechados, ela sorriu, pela entonação usada por Ménon. Ele sempre usava essa entonação com os mais frágeis da turma. Sua respiração se tornou forte e ritmada, enquanto ela parecia dialogar com suas próprias criações mentais. Primeiro desmaterializaram-se as mesas e cadeiras, para depois desmaterializarem-se o teto e as paredes. Pouco a pouco pedras foram surgindo e águas cálidas começaram a molhar os pés e as pernas de todos. Todos ficaram mergulhados na lagoa, que ficava um pouca mais adiante de uma altíssima queda d’água. Theri havia se preocupado em afastar todos das proximidades da queda das águas, para que ninguém se machucasse. Dava para notar que ela era meticulosa em sua “criação” mental. A água estava límpida, calma e quase morna. Logo as águas da cachoeira começaram a cair mais fortemente, gerando gotículas que, pulverizadas pela brisa e iluminadas pelo sol da manhã, fizeram surgir um lindo arco-íris, que começava na queda d’água e que terminava bem no meio da lagoa onde eles se encontravam. Ao redor deles, flores cor-de-rosa foram colorindo e enfeitando os arbustos e uma roseira coberta rosas belamente encarnadas davam um toque todo especial à paisagem criada por Theri. Ninguém queria sair de dentro d’água, pois estava bom demais. Ainda de olhos fechados, Theri perguntou a Menon se podia fazer chover muito. Ménon perguntou aos alunos se eles concordavam com a idéia e, é claro, que todos adoraram a sugestão. Haja chuva! Chuva de cheiro e ainda por cima, morna! Uma diversão para todos, pois o sol estava tinindo e a chuva os refrescava do calor! Suavemente, Theri cuidou de desmaterializar tudo na mesma ordem em que materializara. Desmaterializaram-se a chuva, as flores, o arco-íris, as águas as pedras e logo rematerializavam-se as paredes, o teto, as mesas e, por último, as cadeiras. Os uniformes logo ficaram secos, com a ajuda de Ménon. Todos aplaudiram o feito de Theri. Foi algo muito emocionante mesmo! E o cuidado que ela teve com todos os detalhes, deixou a todos surpresos! Ménon abraçou-a carinhosamente, agradecendo aquele exemplo maravilhoso que só uma aluna aplicada e muito preocupada em acertar poderia dar! Logo, Adhan, o melhor aluno das aulas de materializações, foi chamado. Adhan era conhecido pelos raros dons espirituais que possuía. Quando mais novo, ele usava indevidamente seus poderes, pois não fazia idéia da força de sua magia. Muitas vezes ele materializava cadeiras e, no momento em que seus colegas iam sentar-se, Adhan as desmaterializava, criando, assim, muitas zangas e choro, principalmente das meninas da turma. Pratos de almoço, brinquedos e tantas outras coisas, desapareciam e não tornavam a aparecer, pois ele, muitas vezes não queria admitir sua culpa nesses episódios. Mas Adhan cresceu e a maturidade o transformou completamente. Ele tornou-se um rapaz risonho e bem humorado, mas muito sério no trato das coisas de magia. Ménon andou de um lado para o outro com as mãos para trás, como se pensasse em algo bem interessante para pedir a Adhan. - Querido Adhan, noutro dia seu colega Khemi manifestou o desejo de banhar-se nas águas de um oceano que não fosse aquele que conhecemos aqui em Atlântida. Ákenon e Thales confessaram terem, também, grande desejo de banharem-se no mar de um outro continente. Ménon continuou caminhando por entre as mesas da sala, sempre com as mãos para trás, concentrando-se naquilo que queria pedir a Adhan. - Quero que nos leve a um passeio à beira-mar de um continente ainda desconhecido por nós, mesmo que isso seja adiante ou aquém ao tempo em que vivemos. Enquanto Ménon falava, mesmo antes de formular o que desejava pedir, Adhan permanecia em silêncio com a cabeça levemente encaixada entre as mãos enquanto seus cotovelos se apoiavam firmemente na mesa. Ele respirava ritmada e profundamente, como se já estivesse adivinhando o pedido que o Mestre ainda nem fizera, mas que já se encontrava manifestado no astral. Uma singela claridade em forma de auréola formou-se por sobre a circunferência da cabeça de Adhan, envolvendo seu corpo físico numa aura de luz. O chão da sala ondulava quase que imperceptivelmente, num prenúncio de formação oceânica, deixando tontos alguns de seus colegas. Assim que Ménon acabou de verbalizar o seu desejo, tudo ao redor deles desapareceu como que por encanto. Todos os que estavam com os cotovelos apoiados em suas mesas, caíram na areia molhada, recém criada por Adhan. Ainda bem que as cadeiras só se desmaterializaram quando todos se levantaram, pois ao contrário dos rapazes, as moças da turma não o perdoariam por causar-lhes o vexame de caírem com suas faces na areia. O céu não estava muito limpo e algumas nuvens encobriam a luz do sol. Eles começaram a correr pela areia em direção mar, pois queriam banhar-se, mesmo estando de uniforme. Mergulharam assim que chegaram ao mar. Uma verdadeira farra! Os únicos que não o fizeram foi Adhan e Ménon. Adhan era o criador e Ménon o zelador dessa criação. Mais de uma hora de alegria e de gritos de satisfação se passara, até que um forte estrondo os deteve. A terra pareceu tremer sob aquele forte rugido. Adhan e Ménon que estavam sentados na areia ergueram-se imediatamente. O céu escureceu como se a noite houvesse roubado o sol do céu e as estrelas perderam o rumo. A única claridade a orientá-los era a da parca luz da lua. Um barulho estranho se fez mais alto que o rugido anterior, mas todos os alunos já estavam reunidos na areia, junto a Ménon e a Adhan, que apesar de tudo, mantinham-se serenos, mas bastante curiosos quanto ao motivo de tantos estrondos, já que aquela era uma situação simulada pelo pensamento de Adhan. O que estaria errado, afinal? Um vento gelado começou a soprar, fazendo-os tiritar de frio. Mas antes que Adhan e Ménon pudessem tomar alguma providência, eles viram uma onda gigante bem próxima a eles, já estourando violentamente. Todos gritaram enquanto eram levados pela imensa massa d’água já arrebentada. Muitos rugidos tomavam o ar e o barulho das águas era realmente assustador. Adhan e Ménon, apesar de muito surpresos, foram levados pela forte correnteza da onda. - Adhan, acho que a nossa aventura já está na hora de acabar. – sugeriu Ménon. A forte onda os separou uns dos outros e os carregou terra a dentro. O único meio de contato era o nível mental. Mas mesmo assim, Adhan gritava à plenos pulmões. - Estou tentando dar uma última forma nisso. – respondeu Adhan - Eu os levarei de volta à segurança da nossa sala de aula! Algum tempo se passou, mas eles continuavam sendo levados pela correnteza. Adhan tentou várias vezes desfazer a sua criação, sem conseguir. - Adhan! Não seria conveniente que você fizesse uso de algumas palavras mágicas? – Lembrou Ménon, já se comunicando apenas no nível mental, já que fisicamente todos haviam perdido contato entre si. – Quem sabe assim você consiga nos levar de volta? Imediatamente Adhan pronunciou um encantamento. O céu tornou a ficar claro e eles viram que já estavam à beira de um profundo abismo. Logo todos foram lançados abismo abaixo. Enquanto isso ocorria, Ménon os tirou dali. As paredes da sala de aula foram se materializando novamente e os uniformes secando. Surgiram, então, as mesas, as cadeiras e os objetos que faziam parte da sala de aula. - Me perdoe mestre! Não sei o que aconteceu! – desculpou-se Adhan - Não se desculpe, Adhan, pois você nos levou até uma situação que ocorrerá em certo momento, para habitantes de um continente futuro! Ménon andava por entre as mesas da sala de aula, como sempre gostara de fazer, com as mãos para trás. - Que isso lhe sirva de lição, Adhan! Muitas vezes nos julgamos auto-suficientes achando, erradamente, estarmos acima do bem e do mal. Mas nessas horas como as que passamos agora, é que realmente aprendemos importantes lições. Através da eternidade nossos espíritos se recordarão desse importante aprendizado! Adhan permaneceu de cabeça baixa, mostrando respeito e humildade diante da maestria de Ménon. - Eu jamais vou me esquecer do caldo que eu levei, Adhan! – gritou Pietra, tentando disfarçar o riso. - E os meus cabelos cheios de areia? Como é que a sua imaginação funciona bem, hein Adhan? Como é que pode você ter se esquecido de desmaterializar toda essa areia? – retrucou Gália, sacudindo a cabeça para cima e para baixo, espalhando areia para todos os lados. Ménon deteve-se entre uma mesa e outra sorrindo. Os colegas tratavam de apoiar Adhan, estimulando-lhe o ânimo com seus comentários bem humorados sobre aquela aventura bizarra. Logo, Ménon chamou outra aluna. - Agora é a sua vez, Lemulia! Venha até aqui. Lemulia foi até ele devagar, com um riso desdenhoso nos lábios. Ménon caminhou de um lado a outro da sala e, depois de muitos vai-e-vens, parou diante de Lemulia, muito sério. - Na verdade, minha querida Lemulia, eu queria que você fosse a primeira a ser testada... – o Mestre acariciou sua longa barba, criando um clima meio teatral, para causar um efeito impactante no aprendizado de mais aquela lição - mas quis que pensasse que sua magia banal estivesse funcionando! Enquanto Fenícia estava concentrada, notei que você tentava prejudicá-la com seu pensamento e notei, também, que se esforçou para impedir-me de chamá-la agora! Lemulia deu uma gostosa gargalhada. Ela tinha certeza de que Ménon perceberia suas intenções, mas, mesmo assim, não queria deixar de desafiá-lo. No dia anterior ela havia interferido nas criações mentais de Fenícia, impedindo-a de obter a materialização da pétala da flor. Ela não se preocupou de ocultar de Ménon a sua artimanha, mas o mestre comunicou-se com ela através de um canal mediúnico lhe dando permissão para que a interferência ocorresse, no intuito de fazer com que Fenícia se esforçasse mais nessas aulas. Enquanto sorria, ela sacudia os cabelos com as mãos para livrá-los do montão de areia que se escondiam por entre os fios. - Adhan, Adhan! Que foi aquilo que aconteceu? – ela continuava sacudindo os cabelos e gargalhando gostosamente. – Eu adorei a praia, mas aquela onda arrasou, viu? Ménon interrompeu-a, usando um potente tom de voz: - Lemulia, minha querida, quero que faça soprar uma brisa suave. Não demorou muito para que uma brisa fresca, com aroma de jasmim, soprasse sobre todos. Lemulia ia sempre além daquilo que lhe era pedido. - Querida Lemulia, jamais vá além do que lhe é pedido! Lembre-se: cabe ao mestre a paciência e ao discípulo a obediência! Fui claro, minha cara? - Sim, mestre! Ouvi e prometo sempre lembrar-me desse detalhe! - respondeu Lemulia, arrependida por sempre desafiar seu paciente Mestre. A brisa tornou-se, então, inodora. - Muito bem, Lemulia. Transforme o teto da sala numa tela de cinema, onde um filme inédito esteja sendo projetado! Já que gosta de provar seus poderes, crie uma história fantástica, que convença a todos os seus colegas. Projete as suas idéias ali – disse ele apontando para o teto da sala – e crie uma ambiência propícia a uma história de magia! Depois que as pesadas cortinas foram fechadas, todos se deitaram no chão da enorme sala, usando os colchonetes que faziam parte do material usado em sala de aula, e ficaram em silêncio enquanto uma imensa tela surgia no teto. Lemulia fechou os olhos e sentou-se em posição de lótus, com os dedos médio, indicador e polegar unidos. Sem que ninguém percebesse, o espectro de uma linda mulher saiu do seu corpo espiritual. Esse espectro era o inverso exato da loira Lemulia, pois tinha compridos cabelos negros a lhe cobrir as costas. Trajando um elegante vestido negro que deixava-lhe a mostra os firmes contornos do corpo, ela caminhou pela sala feito uma sonâmbula. Ménon fingiu não notar, para deixá-la bem à vontade, mas sabia tratar-se de Évora, uma feiticeira da futura Cidade da Babilônia. Depois de mais ou menos um minuto assim, onde repetia, constante e ritmicamente palavras mágicas, que Ménon apesar de esforçar-se não conseguiu entender, sua forma foi se desfazendo, até ser absorvida pelo filme que já estava começando a ser projetado no teto. “Estava escuro e dois vultos surgiram em meio a essa escuridão. Uma mulher escondia-se por detrás de um manto negro, enquanto um homem admirava-se diante de uma caixa de vidro, onde uma luz azul brilhante pulsava. A visão era linda demais! A luz envolvia todo o ambiente e parecia trazer o Universo para iluminar e engrandecer aquelas duas personagens que ganhavam vida na tela. Suas mãos tremiam, enquanto ele tentava tocar no vidro onde estavam oito jóias, que brilhavam esplendorosamente. Ele repetia: “Vou conseguir, vou conseguir! Só um pouco mais, um pouco mais!”. Depois de algum tempo, ele conseguiu. Mas, tão logo sua mão tocou no vidro, uma descarga elétrica percorreu-lhe o corpo. Imediatamente o homem foi jogado violentamente contra a parede, o que provocou um barulho forte e assustador, fazendo com que todos os alunos estremecessem num sobressalto. A luz azul continuava a pulsar e o homem permanecia no chão, como que aturdido e semi-inconsciente. Ouvia-se milhões de vozes sussurrando orações, como se pedissem a ele que não tornasse a tocar no vidro. Ele ergueu-se devagar tentando buscar forças para tornar a caminhar até o vidro e quase desistiu de fazê-lo, ficando algum tempo de pé, como a deixar-se banhar pelos eflúvios de paz emitidos por aquela claridade. Aquele parecia ser o brilho da própria divindade, da própria Vida que animava todo Universo! O homem estava sem forças para maculá-la, por um simples capricho. Mas a voz da mulher o estimulava ao mal. Ela o mandava quebrar o vidro e destruir a Lei. “Foi chegado o momento! Somente para o Rei! O Rei desse mundo mortal! Nada poderá superá-lo!”. Ela passou, então, a pronunciar palavras mágicas: “Le helmiac. Profus Titano Cambria de Solaris! Estrangelo Edessa on marlett!” Ela pronunciava bem alto o encantamento, tentando superar as vozes que sussurravam as orações. Uma luz desceu do teto e envolveu o homem que tremia. Era uma cortina de luz azul. Uma cortina protetora, que seria como um campo de força poderoso. Ele passou a repetir as mesmas palavras mágicas que eram pronunciadas pela mulher. “Nada poderá me deter! A Lei será quebrada e o mal reinará absoluto sobre todas as terras!”. As paredes do lugar foram substituídas por chamas poderosas, que aqueciam o ambiente, tornando o ar extremamente sufocante. O homem tentava repetir as palavras mágicas num tom mais alto, mas sua voz parecia estar presa na garganta. Ele contorceu-se e depois de muito esforço, começou a sussurrar alguns sons inaudíveis. A mulher continuava a pronunciá-las o mais alto possível, para que o poder contido em cada uma delas materializasse a força e a treva que as criaram! Percebia-se que estava havendo uma grande luta entre o bem e o mal, entre a treva e a luz, entre a razão e a loucura! O homem levantou-se lentamente e caminhou até a caixa de vidro. Quando a tocou, o chão começou a tremular. Tudo ondulava enquanto o homem permanecia com a mão sobre a caixa de vidro. Seus olhos refletiam a sua loucura! Ele pensava: “Estou louco, estou louco! Não posso e não devo continuar aqui!”. Seus olhos pareciam rodopiar nas órbitas, dando mostras de sua fraqueza. Mas a voz da mulher o fez despertar de seus devaneios e o homem pareceu voltar ao normal. Novamente seus olhos tornaram-se olhos de fera, que ansiavam por sangue. O terror quase materializava-se na tela e o medo envolvia a todos. (Um frio gélido envolveu a sala, fazendo com que todos os alunos se encolhessem, tiritando de frio). Ele era um homem de guerra, de contendas e de ambições desmedidas. Jamais recuara diante de inimigo algum. Mas aquela luz a pulsar, fazia com que ele ouvisse o murmúrio do Universo. Ele sabia que o portal seria aberto. O portal que divide o mensurável do incomensurável, o finito do infinito. Ouviu-se, então, muitos gritos. O foco mudou e logo se pode ver um exército de homens montados em seus cavalos. Todos usavam máscaras de ferro e suas roupas que eram feitas por redes metálicas trançadas, que reluziam à luz do amanhecer. Eles gritavam: “Que o Rei ressuscite e nos traga força e poder!”. No céu, as estrelas pareciam mudar de lugar, enquanto nuvens pesadas envolviam todo o firmamento. O mundo inteiro parecia estar em silêncio, acuado e aterrorizado. Os murmúrios de oração tornaram a atrair o foco e viu-se o homem tentando manter sua mão encostada ao vidro. A luz azul dentro da caixa pulsava violentamente sob suas mãos trêmulas. Não havia como desistir ou voltar atrás, pois nos umbrais do inferno, vozes de lamentação se erguiam. A besta queria a liberdade e aquelas duas personagens lhe abririam as portas que foram fechadas por poderosa magia. As portas do inferno, que haviam sido fechadas há milênios, teriam de ser abertas, para que as sombras envolvessem e dominassem todas as terras do mundo! Logo, a face disforme da besta Kundum surgiu, arrancando murmúrios de pavor dos alunos de Ménon. O seu urro fez com que todos levassem as mãos aos ouvidos, tão forte era! “Malditos sejam todos aqueles que me aprisionaram! Vou destruir essas jóias e acabar com a paz do mundo!” De repente, um barulho ensurdecedor se fez ouvir. A caixa de vidro começava a rachar e as jóias sagradas que descansavam em seu interior passaram a ter seu brilho pulsando muito rápido. E num átimo de segundo, as joias explodiram e o impacto foi tão forte, que pedacinhos de vidro resvalaram da tela, que apagou imediatamente”. Os alunos ficaram com suas roupas cobertas de vidro estilhaçado. Tudo parecia ser extremamente real! Ménon ergueu as mãos, fez os estilhaços desaparecerem e recolocou o teto no lugar. - Estão todos bem? – perguntou sereno. Depois de passado o choque, todos se levantaram. O filme parecia ter durado uma eternidade e não apenas alguns minutos. Ménon segurou Lemulia pelos ombros e carinhosamente a olhou. - Você sabe me dizer qual era o tema desse filme, Lemulia? Ela estava pálida e quase tão assustada quanto seus colegas. Sua voz quase nem conseguia sair da garganta, pois seu corpo todo tremia. - Não, Mestre! – esforçou-se ela para responder - Eu apenas usei a imaginação, nada mais! Diante da sua sinceridade, Ménon a abraçou afetuosamente, beijando seus cabelos dourados. - Tenha cuidado com a sua imaginação, minha querida, pois ela pode destruir tanto a sua paz, quanto a paz do mundo! E enquanto seus alunos dobravam e guardavam seus colchonetes, ele anunciou o final da aula e novamente pediu que estudassem mais para a aula do dia seguinte. Lemulia - A Feiticeira de Asgard (Trecho do meu livro)

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