Santo Antão
- Eliane Arthman
- 7 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Antão nasceu em 251 D.C. Seu pai cultivava e vendia feijão, sendo, assim, um rico proprietário de terras às margens do Rio Nilo, em Tebaída, no alto Egito.
Quando Antão tinha 17 anos, sua mãe adoeceu e morreu em poucos meses. Seu pai, entristecido pela perda de sua amada esposa, a seguiu nove meses depois, deixando Antão e sua irmã órfãos no mundo.
Depois de um ano cuidando sozinho dos negócios herdados, Antão resolveu, certo dia, assistir uma missa dos cristãos, que na época eram chamados de Coptas.
Assim que chegou e se sentou num dos bancos da igreja, o padre citava o capítulo 19:16-22 Mateus, do Evangelho:
" E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus." (Mateus 19:16-23)
Achando que o padre se dirigia a ele, Antão levantou-se e tratou de dar tudo que tinha aos pobres, deixando uma pequena fortuna para sua única irmã, que ficou em um convento.
E, assim, durante toda a sua jornada no deserto, Antão foi perseguido por hordas demoníacas que não o deixavam em paz. Ele era obrigado a ouvir os gritos e toda barulheira que mais de cem diabretes faziam.
Além de desfazerem as esteiras que Antão tecia para os viajantes do Oásis próximo, os pequenos diabos colocavam fezes e urina em seus pão e água.
Durante mais de cinquenta anos isso aconteceu, até que numa certa madrugada, sentado e usando uma parede como encosto, Antão ouviu o silêncio. Nunca ele pudera sentir tanta paz, nem mesmo nas duas horas em que adormecia, vencido pelo cansaço.
Emocionado com aquele fato, Antão olhou para o alto da caverna e, surpreso, ao invés de ver o teto, ele pode vislumbrar o céu estrelado.
Logo, ele percebeu que um cometa multicolorido vinha do céu em sua direção e ficou aguardando o seu fim próximo. Mas aquele cometa transformou-se na silhueta muito amada de Jesus.
Antão colocou a esteira para o lado no intuito de reverenciar o Mestre, mas este o retirou do chão gentilmente, abraçando-o de forma delicada.
Diante do silêncio de Antão, Jesus falou:
- Vim lhe buscar, Antão, pois meu Pai quer vê-lo! Ele permitiu que lutasses contra uma horda demoníaca durante quase cinquenta anos, para testar a tua força. Mas os demônios, apesar de estar em maior número, não conseguiram vencer-te.
Antão só conseguia chorar pela emoção de estar liberto e sem pronunciar palavra, deixou-se levar por Jesus.
Não se sabe quantos dias durou esse desaparecimento de Antão, pois o dia em que isso ocorreu, os viajantes do deserto não souberam precisar. Mas que eles tenham percebido seu sumiço e o buscado pelo deserto, passaram-se sete dias.
Quando Antão retornou, todo o seu corpo estava iluminado por uma coroa de alvinitente luz nacar que irradiava luminosidade para todos os lados.
Assim que se sentou em seu lugar de costume, ele viu uma pequena sombra aproximar-se.
Era o demônio-chefe da falange dos cem diabretes que o perseguiam. Ele queria falar com Antão e, assim, estranho diálogo se deu:
- Beato, onde estiveste? - perguntou o demônio-chefe - nós e os habitantes do deserto procuramos por ti e em lugar algum pudemos te encontrar!
- O Senhor Deus me chamou e me absorveu! - esclareceu Antão carinhosamente - Infelizmente tu e os teus comparsas terão de partir, pois a permissão que tinhas de me perseguir se extinguiu depois de cinquenta anos.
Muito entristecido, o demônio-chefe redarguiu:
- Então o Beato vai nos deixar?
- Sim, tereis de ir embora daqui.
Os outros cem diabretes fizeram um 'Ohh' em uníssono diante daquela revelação e a maioria deles pôs-se a chorar.
Logo, eles se reuniram, murmuraram coisas ininteligíveis uns para os outros, como se entrassem num acordo, e o demônio-chefe tornou a pedir a palavra ao Beato Antão:
- Senhor, por favor, não nos abandone - lamentou-se ele - Que faremos sem o Senhor? Quem irá rir das nossas diabrices e nos perdoar por toda a barulheira que fazemos?
Antão nada poderia fazer, mas teve uma ideia e a revelou para o desconsolado demônio-chefe:
- Podem ficar aqui comigo, mas guardando profundo silêncio e repetindo mentalmente às orações que faço durante os dias e as noites... Concordam com isso?
Eles se entreolharam e assentiram com a cabeça, felizes por serem acolhidos pelo bondoso Beato Antão.
E assim, essas cem Almas se tornaram Mestres do Silêncio, que passaram a incentivar aqueles que passam pelas provações e sacrifícios imputados pelos demônios!
Salve Santo Antão, o Santo do Deserto!
💙🙏🏻💙
Com Amor e por Amor
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Eliane Arthman

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