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Na Hora da Gira a Gira Roda

🎩🔱🎩Na Hora da Gira a Gira Roda🎩🔱🎩


...já havia um tempo que Tranca-Rua das Almas estava ouvindo uma segunda voz em sua mente, todas as vezes que incorporava na médium com a qual trabalhava.

Certa noite, já incorporado, a Cambona da sessão trouxe uma lista com os nomes das pessoas que se consultariam com ele. Ele deu uma baforada no papel com a fumaça do seu charuto e, um dos nomes estranhamente não absorveu a fumaça.

Ele olhou desconfiado e pediu a moça que apontasse para o dono daquele nome. Prontamente ela apontou para o homem que estava sentado em meio a assistência.

Tranca-Rua franziu os olhos e percebeu que o homem parecia estar desfocado no meio de todos. E logo concluiu que ele não pertencia a mesma dimensão de todos ali!

Pediu que a moça o trouxesse até ele, mesmo que passando na frente de todos.

Prontamente o velho senhor estava diante de Tranca-Rua, o saudando respeitosamente com um caloroso ‘Boa Noite’.


- Como bem você pode notar, meu amigo, não pertenço a essa dimensão - adiantou o senhor, usando um tom de voz quase sussurrado. Reparou nas minhas vestes de Franciscano?


Com as mãos para trás, bem ereto e atento, Tranca-Rua ouviu o senhor, entre goles de gim e baforadas no charuto.


- Chame-me de Padre Antônio. Sou um velho Padre exorcista, instrutor e guia dos que já se encontram preparados para a redenção e mudança de faixa vibratória.

Quero lhe perguntar se você pode me acompanhar exatamente agora, para que eu lhe mostre uma situação na qual tenho certeza que você poderá ajudar e, com isso, ganhar os bônus espirituais dos que se arriscam em prol da caridade.

Sem titubear, Tranca-Rua respondeu que nunca teve medo de correr riscos, fosse pela caridade ou fosse lá pelo que fosse.

Imediatamente Padre Antonio colocou o dedo indicador na testa da médium, fazendo-na desfalecer e dando passagem à Maria Padilha das Almas, que chegou gargalhando de felicidade por tomar o lugar de Tranca-Rua!


Assim que a Cambona a saudou, Maria Padilha foi logo falando:

- Boa noite, ‘mocha’, boa noite! Ê, ê! Hoje eu serei a única Rosa nesse jardim de cravos murchos - disse ela, enquanto sacudia os ombros e jogava a cabeça para trás gargalhando animadamente, enquanto a cambona colocava as saias, as guias e retirava a cartola, o manto e o charuto das mãos da médium.

...

Assim que a médium caiu e foi amparada pela cambona, Padre Antônio se afastou e sumiu dali, assim como chegara, de forma muito discreta, já que, na verdade, só fora percebido por uns poucos participantes que ali estavam.

...

Tranca-Rua deixou o corpo da médium e seguiu o velho Padre, admirando-se por não ver mais as paredes do terreiro ou a assistência da noite, que estava lotada.

...

(Nice - Riviera Francesa - 1789)

Imediatamente adentraram em um ambiente residencial, onde dois homens conversavam sobre os últimos acontecimentos na França, que já começava a gerar ódio nas classes menos privilegiadas:

um era jovem e belo e o outro um velho com semblante encarquilhado, que não escondia a avareza e o apego aos bens materiais acumulados durante toda vida.

Assim que o velho mostrou àquele ao qual chamou de filho o segredo de onde se encontravam os seus bens, o rapaz quebrou uma pesada jarra de porcelana chinesa em sua frágil cabeça, derrubando-o no chão, deixando-o ali inconsciente e sangrando profusamente.

Depois de encher muitas sacolas com moedas e valiosas peças de ouro, o rapaz apagou todos os candelabros e trancou a porta do ambiente, tendo o cuidado de travar a alavanca da lateral da entrada, para que ninguém pudesse ali adentrar.

Depois de lavar as mãos sujas com o sangue do pai numa pequena fonte de água que ficava próximo a uma lareira do salão da mansão, o jovem trancou tudo e dirigiu-se ao Porto da cidade, embarcando num luxuoso navio juntamente com mulheres da vida e homens indignos, ávidos por diversão e por variadas formas de devassidões.

Mas durante os meses de viagem, muitas brigas violentas aconteceram e, numa delas o belo rapaz travou luta com um grupo de bêbados no convés do navio e, no auge do ódio, foi arrastado, fortemente amarrado no alto de um dos mastros e lá deixado para morrer.

Em profundo sofrimento seu corpo físico sucumbiu depois de muitos dias, mas por não notar esse fato, sua agonia era insuportável.

E para piorar, certo final de tarde, uma grande tempestade formou gigantescas ondas que depois de muito açoitar a grande embarcação, levou-a à pique em algumas horas.

O rapaz amarrado ao mastro, apesar de não estar mais entre os vivos, sentiu toda a agonia dos que morrem afogados e, pior que isso, desesperou-se mais uma vez ao ir até o fundo do mar gelado, amarrado ao mastro do navio. Depois de horas de transe e de inconsciência, ele revivia todos os últimos trágicos acontecimentos, desde o assassinato do pai até o terrível momento da briga no convés, quando lhe amarraram num dos mastros e ali o deixaram para morrer.

Dia após dia ele revivia exaustivamente seus últimos meses de vida, até que surpreso passou a ver o pai a seus pés no mastro do navio, com a cabeça ensanguentada, chamando-o de ladrão e de parricida. O rapaz forçava um dos pés e enxotava violentamente a figura do pai, que desaparecia por algum tempo, para logo retornar com mais ódio ainda!

Padre Antônio pediu que Tranca-Rua os ajudasse de alguma forma, libertando-os das correntes de ódio que prendiam todos àquela macabra viagem, já que as orgia e devassidão continuavam acontecendo e, até então, ninguém conseguira libertá-los.

Desde o assassinato do pai até o momento em que fora amarrado ao mastro do navio, se passaram mais de duzentos anos!

Tranca-Rua saiu do navio e voltou à Gira, mas não incorporou na médium, pois preferiu falar com ela em desdobramento. E durante a conversa que teve com ela, Maria Padilha foi chamada, para que ajudasse na melhor solução daquela questão, que se desenrolava nas dobras do Tempo!

Na Gira da semana seguinte o rapaz e seu velho pai foram retirados daqueles corpos fantasma aos quais estavam fortemente ligados e atraídos pela Falange de Padilhas até o corpo de dois médiuns para que, assim, começassem o exercício do despertar para a Verdade.

Com muito esforço os médiuns se erguiam e seus parceiros de Gira estimulavam os espíritos do rapaz e de seu pai para que estes se sentissem aquecidos pelos corpos dos médiuns.

O médium no qual o rapaz incorporava desenvolveu grave pneumonia, pois absorveu as impressões que o jovem sofria ao afogar-se nas águas gélidas do fundo do mar. O médium que incorporava o pai do rapaz teve graves problemas com terríveis dores de cabeça e dormência nas pernas.

Durante meses o rapaz e seu velho pai incorporaram naqueles dois médiuns daquela gira, para que, através das Leis cósmicas que regem o Amor e a solidariedade pudessem ser libertos de si mesmos, sob a tutela e os esforços de Seu Tranca-Rua das Almas e de toda a Falange de Padilhas que ali trabalhavam.

...

Certa manhã o rapaz despertou ainda no navio e ficou confuso, pois andara sonhando estar em meio a cânticos e ervas balsâmicas. Ouvia palavras de incentivo vindas de um homem corpulento, que gargalhava alegremente, soltando uma fumaça cheirosa em seu rosto.

‘Quem será esse homem vestido de negro, de manto e cartola?’, pensou.


Olhou para baixo e viu seu pai com uma bandagem na cabeça a sorrir bondosamente para ele, algo que ele jamais vira seu pai fazer!

Soluçando, feliz por ver aquilo, o jovem pediu perdão ao pai por toda a covardia que fizera. Completamente transformado, o pai acariciou-lhe os pés e disse que não havia o que perdoar. Durante toda tarde eles ficaram ali em silêncio observando o mar, o rapaz amarrado ao mastro e seu velho pai a segurar seus pés.

Mas quando o sol ia se por mais uma vez, o rapaz desesperou-se, pois sabia que a tempestade novamente açoitaria o navio, levando-os ao fundo do mar, ao som de um rumor ensurdecedor!

Em total desespero por mais uma vez ter de vivenciar aquelas terríveis sensações, o rapaz fitou o céu:


- Senhor da Vida, que os méritos das Chagas do Teu filho possam alcançar os nossos miseráveis espíritos. Nos perdoe por não sabermos oração alguma para Te saudar!


Logo, vários pontos de luz começaram a surgir no céu, vindos em direção ao navio.

Eram os anjos da guarda de cada um dos espíritos que ali estavam, que há séculos aguardavam essa oportunidade. Um a um, eles reverenciaram o rapaz e seu velho pai, agradecendo-lhes a libertação daquelas mais de cem consciências que estavam ali aprisionadas.

...

Nesse momento a Gira corria no Terreiro e assim que Seu Tranca-Rua das Almas e Maria Padilha das Almas chegaram trazendo os redimidos espíritos de pai e filho, completamente lúcidos e libertos de seus corpos físicos, todos cantaram e dançaram de alegria!


À partir desse fato, as Falanges de Tranca-Rua das Almas e de Padilhas conseguiram méritos bastante para auxiliar aos que os buscavam naquele Terreiro, no intuito de obterem cura tanto para o corpo quanto para os seus espíritos!


Assim se deu!

Laroyê-Exu

Laroyê-Padilhas!


Com Amor e por Amor

❤️

By

Eliane Arthman


(Foi uma grande emoção ver o céu iluminado por aqueles pontos coloridos que se aproximavam do navio, afastando a tempestade para longe dali! Não sabíamos, até então, do que se tratava. Mas ao ver aqueles majestosos Seres, nos curvamos profundamente tocados em nossos espíritos. A energia balsâmica que emanavam nos encheu da mais pura alegria, enquanto podíamos vê-Los buscar carinhosamente por seus protegidos no interior da embarcação, carregando-os no colo até o convés e seguindo felizes com eles rumo ao Infinito!)

🎩🌹🎩


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1 comentário


katia fonseca da silva
katia fonseca da silva
18 de jan. de 2022

Sou eternamente grata por ser médium do Sr Tranca Rua das Almas e da Maria Padilha do Crematório 🙏🕴️💃🗝️⚰️🚬🔥🕯️❤️

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