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Lemulia - A Feiticeira de Asgard

...depois que Fenícia sentou-se, Ménon chamou outra aluna.


- Agora é a sua vez, Lemulia! Venha até aqui.


Lemulia foi até ele devagar, com um riso desdenhoso nos lábios. Ménon caminhou de um lado a outro da sala e, depois de muitos vai-e-vem, parou diante de Lemulia, muito sério.


- Na verdade, minha querida Lemulia, eu queria que você fosse a primeira a ser testada... – o Mestre acariciou sua longa barba, criando um clima meio teatral, para causar um efeito impactante no aprendizado daquela lição - mas quis que pensasse que sua magia banal estivesse funcionando! Enquanto Fenícia estava concentrada, notei que você tentava prejudicá-la com seu pensamento e notei, também, que esforçou-se para impedir-me de chamá-la agora!


Lemulia deu uma gostosa gargalhada. Ela tinha certeza de que Ménon perceberia suas intenções, mas, mesmo assim, não queria deixar de desafiá-lo. No dia anterior ela havia interferido nas criações mentais de Fenícia, impedindo-a de obter a materialização da pétala da flor.

Ela não preocupou-se de ocultar de Ménon a sua artimanha, mas o mestre comunicou-se com ela através de um canal mediúnico, lhe dando permissão para essa interferência, no intuito de fazer com que Fenícia se esforçasse mais nessas aulas.


Olhando para Lemulia por cima dos óculos e usando um potente tom de voz, Ménon pediu:


- Quero que faça soprar uma brisa suave.


Não demorou muito para que uma brisa fresca, com aroma de jasmim, soprasse sobre todos.


Lemulia ia sempre além daquilo que lhe era pedido.


- Querida Lemulia, jamais vá além do que lhe é pedido! Lembre-se: cabe ao mestre a paciência e ao discípulo a o b e d i ê n c i a ! Fui claro?


- Sim, mestre! Ouvi e prometo sempre lembrar-me desse detalhe!- respondeu Lemulia muito séria.


A brisa tornou-se, então, inodora.


- Muito bem, Lemulia. Transforme o teto da sala numa tela de cinema, onde um filme inédito esteja sendo projetado! Já que gosta de provar seus poderes, crie uma história fantástica, que convença a todos os seus colegas. Projete as suas idéias ali – disse ele apontando para o teto da sala – e crie uma ambiência propícia a uma história de magia!


Depois que as pesadas cortinas foram fechadas, todos se deitaram no chão da enorme sala, usando os colchonetes que faziam parte do material usado em sala de aula, e ficaram em silêncio enquanto uma imensa tela surgia no teto.


Lemulia fechou os olhos e sentou-se em posição de lótus, com os dedos médio, indicador e polegar unidos. Sem que ninguém percebesse, o espectro de uma linda mulher saiu do seu corpo espiritual. Ela era o inverso exato da loira Lemulia, pois tinha compridos cabelos negros a lhe cobrir as costas. Trajando um elegante vestido negro que deixava-lhe a mostra os firmes contornos do corpo, ela caminhou pela sala feito uma sonâmbula, para logo começar a andar em círculo, como se contornasse algo que habitasse apenas a sua imaginação.Ménon fingiu não notar, para deixá-la bem à vontade.


Depois de mais ou menos um minuto assim, repetindo algumas palavras mágicas que Ménon apesar de esforçar-se não conseguiu entender, sua forma foi se desfazendo, até ser absorvida pelo filme que já estava começando a ser projetado no teto.




“Estava escuro e dois vultos surgiram em meio a essa escuridão. Uma mulher escondia-se por detrás de um manto negro, enquanto um homem admirava-se diante de uma caixa de vidro, onde uma luz azul brilhante pulsava.


A visão era linda demais! A luz envolvia todo o ambiente e parecia trazer o Universo para iluminar e engrandecer aquelas duas personagens que ganhavam vida na tela. Suas mãos tremiam, enquanto ele tentava tocar no vidro onde estavam oito jóias, que brilhavam esplendorosamente.


Ele repetia:


“Vou conseguir, vou conseguir! Só um pouco mais, um pouco mais!”.


Depois de algum tempo, ele conseguiu. Mas, tão logo sua mão tocou no vidro, uma descarga elétrica percorreu-lhe o corpo. Imediatamente o homem foi jogado violentamente contra a parede, o que provocou um barulho forte e assustador, fazendo com que todos os alunos estremecessem de susto.


A luz azul continuava a pulsar e o homem permanecia no chão, como que aturdido e semi-inconsciente.


Ouvia-se milhões de vozes sussurrando orações, como se pedissem a ele que não tornasse a tocar no vidro.


Ele ergueu-se devagar tentando buscar forças para tornar a caminhar até o vidro e quase desistiu de fazê-lo, ficando algum tempo de pé ali no chão, como a deixar-se banhar pelos eflúvios de paz emitidos por aquela claridade. Aquele era o brilho da própria divindade!


O homem estava sem forças para maculá-la, por um simples capricho. Mas a voz da mulher o estimulava ao mal. Ela o mandava quebrar o vidro e destruir a Lei.


“Foi chegado o momento! Somente para o Rei! O Rei desse mundo mortal! Nada poderá superá-lo!”.


Ela passou, então, a pronunciar palavras mágicas:


"Om Orakust, Hemiad, Kiratus. Le Al Hokbras, Ektua”.


Ela pronunciava bem alto o encantamento, tentando superar as vozes que sussurravam as orações.


Uma luz desceu do teto e envolveu o homem que tremia. Era uma cortina de luz azul. Uma cortina protetora, que seria como um campo de força poderoso. Ele passou a repetir as mesmas palavras mágicas que eram pronunciadas pela mulher.


“Nada poderá me deter! A Lei será quebrada e o mal reinará absoluto sobre todas as terras!”.


As paredes do lugar foram substituídas por chamas poderosas, que aqueciam o ambiente, tornando o ar extremamente sufocante. O homem tentava repetir as palavras mágicas num tom mais alto, mas sua voz parecia estar presa na garganta. Ele contorceu-se e depois de muito esforço, começou a sussurrar alguns sons inaudíveis. A mulher continuava a pronunciá-las o mais alto possível, para que o poder contido em cada uma delas materializasse a força e a treva que as criaram!


Percebia-se que estava havendo uma grande luta entre o bem e o mal, entre a treva e a luz, entre a razão e a loucura!


O homem levantou-se lentamente e caminhou até a caixa de vidro. Quando a tocou, o chão começou a tremular. Tudo ondulava enquanto o homem permanecia com a mão sobre a caixa de vidro. Seus olhos refletiam a sua loucura! Ele pensava:


“Estou louco!, estou louco! Não posso e não devo continuar aqui!”.


Seus olhos pareciam rodopiar nas órbitas, dando mostras de sua fraqueza. Mas a voz da mulher o fez despertar de seus devaneios e seus olhos pareceram voltar ao normal. Novamente tornaram-se olhos de fera, que ansiavam por sangue. O terror quase materializava-se na tela e o medo envolvia a todos.


(Um frio gélido envolveu a sala, fazendo com que todos os alunos se encolhessem).


Ele era um homem de guerra, de contendas e de ambições desmedidas. Jamais recuara diante de inimigo algum. Mas aquela luz a pulsar, fazia com que ele ouvisse o murmúrio do Universo. Ele sabia que o portal seria aberto. O portal que divide o mensurável do incomensurável, o finito do infinito. Ouviu-se, então, muitos gritos.


O foco mudou e logo se pode ver um exército de homens montados em seus cavalos. Todos usavam máscaras de ferro e suas roupas que eram feitas de correntes metálicas trançadas. Eles gritavam:


“Que o Rei ressuscite e nos traga a força de volta!”.


No céu, as estrelas pareciam mudar de lugar, enquanto nuvens pesadas envolviam todo o firmamento. O mundo inteiro parecia estar em silêncio, acuado e aterrorizado. Os murmúrios de oração tornaram a atrair o foco e viu-se o homem tentando manter sua mão encostada ao vidro. A luz azul dentro da caixa pulsava violentamente sob suas mãos trêmulas. Não havia como desistir ou voltar atrás, pois nos umbrais do inferno, vozes de lamentação se erguiam.


A besta queria a liberdade e aquelas duas personagens lhe abririam as portas que foram fechadas por poderosa magia. As portas do inferno, que haviam sido fechadas há milênios, teriam de ser abertas, para que as sombras envolvessem todas as terras do mundo!


Logo, a face disforme da besta Kundum surgiu, arrancando murmúrios de pavor dos alunos de Ménon.


O seu urro fez com que todos levassem as mãos aos ouvidos, tão forte era!


“Malditos sejam todos aqueles que me aprisionaram! Vou destruir essas jóias e acabar com a paz do mundo!”


De repente, um barulho ensurdecedor se fez ouvir. A caixa de vidro começava a rachar e as jóias sagradas que descansavam em seu interior começavam a pulsar mais rapidamente. Finalmente as jóias explodiram e o impacto foi tão forte, que pedacinhos de vidro resvalaram da tela, que apagou imediatamente”.


Os alunos ficaram com suas roupas cobertas de vidro estilhaçado. Tudo parecia ser extremamente real!


Ménon ergueu as mãos, fez os estilhaços desaparecerem e recolocou o teto no lugar.


- Estão todos bem? – perguntou calmamente.


Depois de passado o choque, todos se levantaram. O filme parecia ter durado uma eternidade e não apenas alguns minutos.


Ménon segurou Lemulia pelos ombros e carinhosamente a olhou.


- Você sabe me dizer qual era o tema desse filme, Lemulia?


Ela estava pálida e quase tão assustada quanto os colegas.


- Não, Mestre! Eu apenas usei a imaginação, nada mais!


Diante da sua sinceridade, Ménon a abraçou afetuosamente, beijando seus cabelos dourados.


- Tenha cuidado com a sua imaginação, minha querida, pois ela pode destruir tanto a sua paz, quanto a paz do mundo!


E enquanto seus alunos dobravam e guardavam seus colchonetes, ele anunciou o final da aula e novamente pediu que estudassem mais para a aula do dia seguinte.


...


(Ao ler o enredo de um jogo virtual, resolvi escrever um livro em torno de dois personagens, adicionando outros personagens, criados por mim é claro, dentro de uma das salas de aula, de uma Escola de Magia, localizada no submerso continente de Atlântida)


By

Eliane Arthman


 
 
 

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